Depois da fusão de um grande
banco do qual eu trabalhava com outro maior ainda, era uma questão de tempo que
as áreas começassem a sofrer cortes e uma sequencia de reformulações
infindáveis que durariam anos. Inclusive isso já aconteceu há quatro anos e as
reformulações não param.
As cabeças dos Diretores,
Superintendentes e Gerentes apadrinhados da organização menor começaram a ficar
a premio.
Eram tempos de insegurança. O
Banco mandava embora pessoas de forma pulverizada e escalonada de maneira que
não chamasse a atenção do Sindicato.
Com um monte de gente de cargos
hierárquicos altos pendurados, a empresa tinha que dar um jeito de arrumar um
lugar para eles para não passar um recado ruim ao mercado e muito menos
disponibilizá-los aos concorrentes de mão beijada.
Então, aconteceu um movimento de
esparramar esse pessoal nas empresas coligadas do grupo.
Era muito simples, pegava-se uma
das empresas menores do grupo, mandavam embora todos os executivos que lá
estavam e nas cadeiras deles, distribuíam seus apadrinhados sem que houvesse
muita preocupação com o perfil de cada um ou o que eles poderiam colaborar com
o negócio.
Dessa maneira, uma legião de
executivos dos quais eu tinha trabalhado no passado estavam agora em outra
empresa do grupo que iria encarar um cenário competitivo muito forte pela
frente.
Não demorou muito para que eu
recebesse uma proposta de lá. Proposta essa que na ponta do Lápis não tinha
muita diferença de onde eu estava.
A única coisa de fato que mudaria
seria a atividade que iria exercer. Como eu já estava há nove anos no Banco e
minhas ambições já tinham sido derretidas ao longo destes anos, entendi que já
tinha passado da hora de partir.
Então encontrei uma nova empresa
que passará de 500 a 1000 funcionários da noite por dia no desespero de se
preparar ao novo cenário competitivo que estava encontrando.
Ao chegar lá me deparei com uma
empresa repleta de pessoas “foragidas ou resgatadas” de outras empresas do
grupo. Eu inclusive me enquadrava na condição de resgatado.
Na maioria delas não se enxergava
Know-how para as atividades que iriam exercer.
Era o que se chegava mais próximo
de um “Bando”.
Fiquei lá na área comercial um
ano e dois meses.
As estruturas comerciais eram
novas e ninguém tinha vindo desse mercado. Tudo era feito na base da Tentativa
e erro. Durante o período em que fiquei lá foram 14 tentativas sem nenhum
êxito. Uma por mês.
Na Área chamada “Planejamento”
não se planejava nada, do Diretor até o menor Analista pareciam que falavam
outra língua.
O Diretor Geral estava mais
perdido que o Padre dos Balões.
O Diretor Comercial estava mais
preocupado com adesivos que com resultados.
Mas o grande chamariz da empresa
era o Bônus pago mensalmente para o cumprimento das metas.
Quando eu cheguei encontrei meus
pares rindo de orelha a orelha com os valores que eles já tinham embolsado nos
meses anteriores.
Dava-se uma meta de 50 unidades
para se vender e eles vendiam 950.
Fruto “é claro” de um excelente
planejamento de metas.
Não demorou dias depois que
cheguei para mudarem a Meta e então de 50 passou para 8.500
Realmente, mudança que motivou
muito a equipe de vendas. Ninguém mais bateu meta e o clima automaticamente
começou a pesar.
Minha área era regionalizada e quando
eu fui contratado, estava acertado que iria cuidar da região do ABC. Região
próxima da minha residência.
Três dias depois que entrei já
fui direcionado a atender o Vale do Paraíba – Vale do Ribeira Litoral Sul e
Litoral Norte. A Minha alegria era tremenda.
Além da distância de uma para outra,
também eram as que possuíam os piores resultados, logo não bateria minhas metas
tão cedo.
Em determinado momento da
história de tanto tentarem e sem sucesso em obter resultados, foi feita uma
alteração forte na empresa.
O Diretor geral foi destituído do
cargo, pois havia no Banco outra pessoa a ser realocada e como a Moral dele com
o Presidente era maior, ADEUS Diretor.
Não iria demorar para que ele
trouxesse na bagagem mais uma legião de retirantes corporativos e assim foi
acontecendo nos meses seguintes, até que em dado momento meu chefe foi
desligado.
Agora era uma questão de tempo
para chegar a minha hora assim como dos meus pares.
O Problema foi que isso demorou
em acontecer.
Foram meses terríveis onde o
único assunto das rodas era: Quando eu serei demitido? Você tem Plano B?
Eu tinha um Par que me ligava às
8 da manhã, às 2 da tarde e às 7 da noite TODOS OS DIAS sempre com a mesma
conversa. “Eu sei que vamos ser mandados embora, blá, blá, blá”.
Ele tinha mais de 20 anos de
empresa e se alguém não deveria estar preocupado lá, seria ele...
Eu já tinha trabalhado em grandes
empresas e pelo clima estava evidente que isso aconteceria. Já tinha
redesenhado todos meus Planos sabendo que teria um período difícil a enfrentar
quando isso acontecesse.
Mas esse assunto nas rodinhas já
estava me enchendo o saco.
Para fica pior, elegeram outro
gestor para ocupar o lugar do meu chefe na empresa.
Meus pares eram casca grossa, já
tinham tido experiências de gestão anteriores e alguns tinham qualificações até
superiores ao cara para quem iriam se reportar.
Talvez por conta de saber disso
que o novo gestor tinha uma postura altamente autoritária e focava 80% do tempo
em ameaças ao emprego de cada um.
Na minha primeira reunião com ele
agendada em um café num shopping da Zona Sul, ele apontou o dedo na minha cara
e se limitou a dizer que se não batesse as metas ele iria me desligar.
Levantou-se e foi embora.
Eu me limitei a ir embora rindo
de tão patética exposição de gestão Antiquada.
Para falar isso a um subordinado
não precisa ter NENHUM tipo de formação e Know-how.
Com o advento deste Imbecil na
equação. Eu que já estava de saco cheio da desorganização daquele lugar, já
estava torcendo para que nos desligassem o mais rápido possível.
Nossa equipe era constituída de oito
pessoas. Quatro delas já trabalhavam com este novo gerente anteriormente. Eu e
os outros três fomos as heranças malditas que ele recebeu.
Especulava-se que ele ficaria com
quatro pessoas ou até mesmo com nenhum.
Um grande amigo meu que fazia
parte da equipe original dele chegou a ter uma conversa com o gestor quando
estava prestes a mudar de apartamento.
Nessa conversa ele foi
tranquilizado sob o discurso que qualquer decisão que ocorresse, ele faria
parte do time. Então, não teve dúvidas, comprou o apartamento.
Na mesma equipe podíamos perceber
claramente a divisão dos grupos entre os que tinham certeza que ficariam e os
que estavam com medo de ser “limados”.
Semanas mais tarde foi convocada
uma reunião emergencial em uma segunda feira de manhã.
Eu fui para a reunião com a
certeza que aquele seria meu último dia na empresa.
Chegando à sala, encontramos a gerente
de RH e o Gestor Babaca que imediatamente pediu que três pessoas da equipe se
retirassem e aguardassem na sala ao lado.
Era evidente que aquelas três
pessoas seriam as preservadas e “pasmem”, meu amigo que comprou o apartamento
NÃO fazia parte deste grupo.
Agora já com a certeza absoluta
do que iria acontecer, passei a observar na face de cada um as expressões,
especialmente aqueles que tinham certeza que iriam permanecer.
Não vou mentir...
... Eu estava rindo por dentro da
arrogância deles.
Depois que ouvimos a historinha triste,
fomos demitidos de forma coletiva e recebemos nossas rescisões pelas mãos da
Gerente de RH.
Enquanto meus pares olhavam em
choque para o envelope lacrado, o meu já estava assinado e devolvido para o RH.
Enquanto isso, nossos telefones
não paravam de tocar.
Eram nossos funcionários que
faziam trabalho de campo em pulverizados nas diversas regiões de São Paulo.
Das seis pessoas da Sala eu fui o
único a perguntar a eles (Nosso agora ex-gestor e a gerente de RH) como ficaria
a vida desse pessoal.
A Gerente de RH, uma gordinha com
uma dose de arrogância maior que ela, disse com tranquilidade:
_Eles também foram desligados.
E eu tornei a perguntar. Mas de
que forma se todos fazem serviços externos?
Com a mesma tranquilidade e certa
que o procedimento que realizaram era muito normal:
_ Demitimos por Telegrama.
De fato, essa foi a única ocasião
que eu fiquei em choque.
Como eles puderam fazer isso. Só
na minha equipe eram mais de 30 pessoas e estavam trabalhando com os pais deles
receberam o Telegrama em casa.
Teve gente que passou mal ao ler
o telegrama, tinha gente me ligando chorando desesperada.
Eu olhei para meus ex-pares e
NINGUÉM teve a menor reação. Ainda estavam catatônicos com as próprias demissões
para entender o Absurdo que tinham feito com os seus funcionários.
Meu telefone não parava de tocar
então perguntei para a gorda, oque eu deveria falar para eles.
A resposta foi mais absurda ainda:
_ A orientação é que você não
atenda as ligações.
Olha, eu já tinha passado por
experiências escrotais na minha vida, mas aquela foi a maior de todas.
Eu me levantei daquela mesa e
liguei para dois dos meus funcionários, expliquei rapidamente oque tinha
acontecido. Pedi calma e marquei um conference call as 18:00h para falar com
todos eles.
Teve pessoas ali que NUNCA mais
falaram com seus funcionários. Realmente desligaram o telefone e não deram a
menor satisfação. Isso é o maior exemplo de um gestor FILHO DA PUTA.
Alguém indagou a gorda sobre o
fato de alguns colaboradores morarem em áreas de difícil acesso e talvez não
recebessem o Telegrama.
Mas a gorda tinha uma solução
genial para isso, pois no final da tarde todos receberiam um SMS para
comunica-los do desligamento.
Foi um verdadeiro Show de
Horrores do RH.
Ao final do processo ela veio me
perguntar em particular se eu tinha alguma coisa a dizer a respeito.
Eu disse que com relação ao meu
desligamento, não tinha nada a falar e entendia a posição da empresa. Mas o que
eles tinham feito com os colaboradores de campo era digno de prisão. Era um
crime.
Os olhos dela ficaram cheios de
lágrimas, levantei e fui embora.
Saí de lá com 970 kg a menos nas costas.
Um mês depois a Gorda já tinha
mudado o perfil no linkedin, estava à disposição no mercado, também tinha
rodado.
Assim como 70% das pessoas das
áreas internas. Todos demitidos para dar lugar a outra legião de andarilhos
corporativos.
O mais interessante dessa
história foi aquele camarada que me ligava três vezes por dia para me dar
notícias das demissões em massa.
Ele me liga no dia seguinte no
mesmo horário, às 8 da manhã e me diz:
_ Eu fiquei surpreso com a minha
demissão.
AAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHH !!!! Vá Pra PUTA QUE PARIU...
O TURCA
hahahaha......seu post foi perfeito.....Relatou todo aquele "período obscuro" da empresa com mascote canino......Apenas uma correção, eu não me preocupei em avisar minha equipe sobre o desligamento pois na época eu tocava uma operação com mão de obra terceirizada (EPS).....Mas durante esse mesmo dia recebi diversas ligações de Promotores de uma ex-equipe que haviam sido desligados por telegrama e não estavam conseguindo contato com o representante da empresa para esclarecimentos adicionais.........INCLUSIVE, no momento do exame médico demissional (15 dias depois), tive a oportunidade de encontrar cerca de 20 promotores na clinica e explicar o que realmente havia acontecido na empresa........Muitos achavam que tinham sido desligados por conta do não atingimento de suas metas......LAMENTÁVEL !!!
ResponderExcluirhahaha...vc relatou extamente como foi, fui a primeira a receber o maldito telegrama de merda, realmente ficamos em choque acho q nunca mais serei demitida dessa forma, nem se eu for trabalhar na pastelaria do China....a sorte foi contar com vc como gestor para nos explicar o acontecido. Empresa PATETICA...kkkkkk
ResponderExcluirnão dão a miníma..
ResponderExcluirEu acho que conheço essa "História" !!! kkkk
ResponderExcluirEu conheço essa "História" ... kkkkkkk
ResponderExcluirNossa que show de horror, jamais imaginei que vocês passaram essa situação, eu levei um certo susto mais já estava esperando mesmo porque eu salario cair de R$3.000,00 para R$900.00 é de se esperar uma boa demissão, sem contar que a empresa já dava sinal que ia de mal a pior, as reuniões trimestrais cada vez era em lugares piores, para vocês terem ideia uma vez um dos nossos lideres alugou uma salinha e serviu salgadinho no copo descartavél,lamentavél essa situação, hoje confesso que tenho um pouco de medo de entrar em empresas com novos projetos e odeio receber telegramas rsrsrs...
ResponderExcluirMas confesso que aprendi muito com tudo isso.
O Diretor Geral estava mais perdido que o Padre dos Balões. kkkkkkkkk Samir, você é de um senso de humor incrível! Isso dá um ótimo roteiro para um filme de comédia dramática.
ResponderExcluirSerá que essa gorda é a mesma gorda loira que se recusou a me fornecer meus holerites? Uma coisa simples e de direito meu?
Bom isso ainda não é uma página virada da minha história, pois tenho certeza que vou rir a toa daqui um tempo, por tudo que passei. Foram experiências boas sim, que me abriram portas. Mas confesso que se colocar na balança, os maus momentos e as experiências negativas pesam muito mais. Ainda sofro com os reflexos e consequências desta experiência, e, confesso que fui pega de surpresa pelo TELEGRAMA LEGAL DO GUGU, como disse o Michel Eurípedes Pereira rs. Talvez pela segurança e conforto que a atual gestão me passava, talvez já soubessem de alguma coisa, hoje sinto que fui feita de idiota.
Mas, há males que vem para o bem, não vou dizer que estou satisfeita, porque nunca estarei, sou ambiciosa e sempre busco o melhor pra mim, mas foi bom terem nos libertado, pois não havia perspectiva nenhuma dentro da empresa.
Enfim, sou mais uma dentre cerca de 500 pessoas que foram prejudicadas ou beneficiadas (depende do ponto de vista), e sei dos meus direitos, algo que acho que todos deveriam procurar saber.
Valeu sim a experiência, as amizades, os relacionamentos. Toda a experiência é válida e tudo aquilo de negativo serve para nosso aprendizado e reflexão.
Fica aqui meu desejo de sucesso à todos aqueles que com quem trabalhei e a você também Samir.
Espero ansiosa pelas próximas crônicas. Ganhou mais uma leitora do seu blog, parabéns!
O Diretor Geral estava mais perdido que o Padre dos Balões. kkkkkkkkk Samir, você é de um senso de humor incrível! Isso dá um ótimo roteiro para um filme de comédia dramática.
ResponderExcluirSerá que essa gorda é a mesma gorda loira que se recusou a me fornecer meus holerites? Uma coisa simples e de direito meu?
Bom isso ainda não é uma página virada da minha história, pois tenho certeza que vou rir a toa daqui um tempo, por tudo que passei. Foram experiências boas sim, que me abriram portas. Mas confesso que se colocar na balança, os maus momentos e as experiências negativas pesam muito mais. Ainda sofro com os reflexos e consequências desta experiência, e, confesso que fui pega de surpresa pelo TELEGRAMA LEGAL DO GUGU, como disse o Michel Eurípedes Pereira rs. Talvez pela segurança e conforto que a atual gestão me passava, talvez já soubessem de alguma coisa, hoje sinto que fui feita de idiota.
Mas, há males que vem para o bem, não vou dizer que estou satisfeita, porque nunca estarei, sou ambiciosa e sempre busco o melhor pra mim, mas foi bom terem nos libertado, pois não havia perspectiva nenhuma dentro da empresa.
Enfim, sou mais uma dentre cerca de 500 pessoas que foram prejudicadas ou beneficiadas (depende do ponto de vista), e sei dos meus direitos, algo que acho que todos deveriam procurar saber.
Valeu sim a experiência, as amizades, os relacionamentos. Toda a experiência é válida e tudo aquilo de negativo serve para nosso aprendizado e reflexão.
Fica aqui meu desejo de sucesso à todos aqueles que com quem trabalhei e a você também Samir.
Espero ansiosa pelas próximas crônicas. Ganhou mais uma leitora do seu blog, parabéns!