No ano de 2004 para ficar amiga da sociedade e da Receita
Federal a empresa resolveu entrar de cabeça nos programas de Aprendizes.
Eram duas categorias. Os menores e os Jovens.
Normalmente , selecionados em comunidades carentes , este
pessoal chegava na empresa com o intuito de aprenderam algum ofício e a empresa
obtinha benefícios fiscais em contra partida.
Em evento que contava com a presença da Diretora de RH ,
Superintendentes Comerciais e gerentes, fui devidamente presenteado com o rapaz
que seria o Menor Aprendiz da minha unidade.
O nome dele era Naldo. Na verdade o nome dele era outro ,
Naldo era apelido, mas 6 anos depois, ainda não sei qual o nome verdadeiro
dele, até porque se ouvi a voz dele 3 vezes foi muito.
O nome verdadeiro devia ser aqueles nomes maravilhosos que
são uma conjunção entre o nome da mão e do Pai ou dos avós Maternos e Paternos
ou alguma merda do gênero.
Devia ser Elionaldo, Arionaldo, Cristionaldo, Marionaldo
etc.
O menino era franzino e extremamente tímido, pelo menos na
minha frente.
Comecei designando a
ele uma tarefa muito nobre . A organização do Almoxarifado.
Aquilo estava uma bagunça. Eram documentos, brindes,
materiais promocionais e o Diabo. Tudo entulhado e jogado pra todo canto.
Pra falar a verdade , eu NUNCA entrei naquela maldita sala.
Deixei o garoto lá e depois de uma semana fui dar uma
olhada.
Para minha alegria o Almoxarifado estava PIOR que
antes. Logo vi que o senso de
organização do Garoto estava comprometido.
Dei um Feed back leve e passei para a próxima etapa.
Agora ele era o
responsável em carimbar os folhetos promocionais da unidade.
Para carimbar um lote de 500 folhetos, ele demorava 2 dias.
Novamente outro leve feed back acompanhado de uma aula de “Como
se carimbar um folheto”.
Na segunda tentativa uma evolução, já carimbava 500 folhetos
em um dia e meio.
Como eu tinha mais de 10 mil folhetos em estoque, fiquei
preocupado em ter que gastar 19 anos para carimbar todos.
Novamente alterei a função do rapaz. Agora ele distribuía os
folhetos na porta da unidade aos transeuntes que ali passavam.
Depois que peguei ele dormindo em pé por 2 vezes, fui obrigado
a retira-lo da atividade e partir para um feed Back um pouco mais intenso.
Nestes feed backs o rapaz ficava encaixado na cadeira me
olhando com cara de boneco de cera e ao final quando eu perguntava se ele tinha
alguma dúvida ou comentário ele me respondia balançando a cabeça que não tinha
nada a declarar.
Uma vez por semana todos os aprendizes participavam de
treinamento na empresa terceira que os recrutou . O Objetivo deste treinamento
era dar continuidade aos processos que eles aprendiam nas unidades.
Como última tentativa, coloquei o menino para organizar as
filas do caixa.
Inacreditavelmente comecei a notar que uma fila com 5
clientes conseguia gerar reclamações. Uma fila com mais de 6 já era motivo para
a terceira guerra mundial.
Já desesperado e sem ter mais oque fazer resolvi chamar o
garoto para aplica-lo um FeedBack de nível 3.
O Feed Back de nível 3 tem o objetivo de deixar o
interlocutor com ódio de você. É o limite entre a agressão verbal e física.
Eu já estava de saída da unidade pois tinha acertado minha
ida para outro departamento da empresa.
Participou comigo desta reunião a pessoa que iria me
substituir na unidade.
Pessoa essa que apelidei carinhosamente de Cabeça de
Passarinho, dado seu corte de cabelo que a fazia parecer com uma Codorna.
Coloquei o Maldito moleque na cadeira e já abri a conversa
perguntando a ele oque ele e os demais Aprendizes faziam nos cursos no meio da
semana.
Será que eles jogavam vídeo game ? Será que eles assistiam
TeleTubies ?? QUE PORRA ELES FAZIAM LÁ ?
Ele não me respondeu.
Depois perguntei a ele oque ele pensava que seria da vida
dele e oque a Família dele achava que seria a vida dele.
Eu Já estava lacrimejando sangue e a cabeça de passarinho
tremia sem parar.
O Moleque permanecia na sala como se não estivesse
acontecendo nada.
Eu não aguentei,
cheguei bem perto dele , olhei no fundo dos olhos do garoto e disse:
_ NALDO, espero que você me encontre na rua daqui uma 5 anos
e diga que eu estava errado em TUDO te falei hoje .
Mas se você não mudar seu jeito de ser e de encarar a vida o
patamar mais alto que vai chegar na carreira é ser um PIPOQUEIRO.
Com um terrível agravante. JAMAIS venderá pipoca com
BACON pois , colocar Bacon na Pipoca já seria uma atividade muito sofisticada
para a sua capacidade.
Finalmente, neste momento, uma lágrima escorreu do olho esquerdo do
menino e eu tive a prova que ele não era um boneco de Pano e tinha vida .
A Cabeça de passarinho me abordou no corretor e me disse que
deveria pegar mais leve e que ele precisava de treinamento.
Eu dei uma olhada rápida na cara dela, sorri e fui embora
pensando:
_ Tá fudida !
Depois de uns 4 meses que já tinha saído da Unidade, os
funcionários de lá me falaram que a coitada já não aguentava mais o garoto e
não sabia mais o que fazer com ele.
Do outro lado da linha eu ria como uma criança.
Agora , depois de 7 anos Deus me deu a oportunidade de descobrir que de
fato estava totalmente errado com relação ao garoto.
Recentemente, retornando para minha casa após uma visita
comercial, encontrei o NALDO em uma esquina na Zona Sul de São Paulo.
Ele não virou pipoqueiro como tinha previsto. Ele na verdade
era Panfleteiro de materiais imobiliários no farol.
Infelizmente a Cabeça de Passarinho falhou na meta de
treiná-lo para a Vida.
Antes que me esqueça...
.. Vai pra PQP NALDO e CABEÇA DE PASSARINHO.
O TURCA.
Ahahahahaha, sensacional!
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