Eu devia ter 4 ou 5 anos de idade.
Minha lembrança mais antiga era de acordar assustado e
chorando e ir correndo para sala quando escutava os gritos do meu pai.
Minha mãe ficava desesperada porque era ela quem tinha que
me acalmar depois.
Para meu azar estávamos no início dos anos 80. Tempos de
Casagrande, Sócrates, Biro Biro e da Democracia Corinthiana, tempos de muitos
gols então acordei assustado muitas vezes.
Eu não entendia porque meu Pai ficava na frente da TV vendo
aqueles jogos e algumas vezes chorava quando o campeonato chegava no final.
Anos mais tarde aprendi que o nome disso era “Conquista de
Títulos”.
Pra falar a verdade eu cresci sem nenhum interesse no
futebol, mesmo tendo toda minha família Corinthiana.
Foi apenas na minha adolescência, no início dos anos 90 que
fui “obrigado” a começar entender de futebol.
Comecei a estudar em uma escola cujo o único assunto nas
manhãs era Futebol.
Desgraçadamente naquele ano, o Corinthians estava em último
lugar no Campeonato Paulista.
Os meus amigos não perdoavam e eu comecei a acompanhar os
jogos pelo rádio para ter assunto no outro dia antes da aula.
Nessa mesma época, comecei a assistir os jogos com meus dois
primos, Jorge e Alexandre .
O Jorge sempre foi o mais alucinado pelo Corinthians, eu o
observava assistindo os jogos e via o sofrimento e alegria em cada lance e gol.
Fazia uma bagunça desgraçada na casa e gritava como se fosse
morrer do coração.
Um dia ele me levou para o Estádio. Era a primeira vez que
iria em um jogo.
Foi uma farra, fomos com vários amigos dele tão loucos
quanto ele. Se fechar os olhos eu consigo lembrar exatamente do momento que entrei nas
arquibancadas do Morumbi e vi o imenso gramado que só conhecia pela TV.
O Jogo era contra o Santos e o Corinthians venceu de virada
por 2 a 1 com gols de NETO e EZEQUIEL “ De cabeça”.
Aquele momento mudou completamente minha vida. Eu fui
contaminado pela doença e comecei cada vez mais entender sobre a história e
conquistas do Corinthians, já tinha total domínio do assunto, não perdia nenhum
jogo, seja no rádio ou TV e todas as vezes que possivel visitava o estádio.
Acabamos o campeonato como vice-campeões perdendo para a
equipe do Palmeiras que tinha Evair, Edmundo, Zinho etc.
Mas ainda naquela década eu pude acompanhar toda a história
daquele que “para mim” é o maior ídolo,
Marcelinho Carioca.
De lá pra cá foram muitos títulos, algumas derrotas.
Entre as Derrotas mais sofridas, sem dúvida a segunda
eliminação na Libertadores para o Palmeiras. Tínhamos o melhor time nas duas
ocasiões, jogamos melhores nas 4 partidas e novamente eliminados nos pênaltis.
Não cheguei a chorar por esse derrota e nem por nenhuma
outra, mas fiquei menos fanático. Acalmei bastante.
Meus gritos já não eram tão fortes.
Entre as vitórias, não dá pra esquecer os 2 a 1 no Santos
com o gol do Ricardinho faltando 8 segundos para acabar.
A Final do mundial de 2000 e principalmente o primeiro
título que eu realmente comemorei que foi o Paulista de 1995 com aquele gol do
Elivelton que me fez ficar tão louco que me pendurei no portão só de cueca e
gritava campeão, campeão....
No capítulo triste dessa longa história, o rebaixamento de
2007, eu já estava em uma fase da vida onde a razão era maior que a emoção e eu
sabia que apenas uma administração séria nos salvaria.
Então eu comecei a torcer para que as decisões do
Corinthians fora de campo fossem tão vitoriosas quanto dentro dele.
Minha visão profissional de trabalho fez com que eu
admirasse seus administradores e os exemplos de superação, estratégia ,
Marketing e criatividade que eles adotavam para tentar fazer o clube ressurgir.
Os esforços tiveram resultados e não há dúvidas, o divisor
de águas da história do Corinthians foi a contratação do Ronaldo Fenômeno.
Ele nunca foi um ídolo pra mim, nem antes nem durante e nem
depois do Corinthians, mas para a História do clube ele foi fundamental.
Evoluímos 80 anos em 3 anos com ele no elenco.
Tiramos um atraso estrutural gigantesco entre os clubes
Brasileiros as receitas do clube explodiram e no dia 1º de Setembro de 2010 eu
estava lá na festa de 100 anos no Anhangabaú no anúncio do nosso tão sonhado
estádio.
Poucos anos mais tarde chegou o último título que faltava, a
Libertadores da América.
Mesmo que tenha sido uma campanha tão linda contra um
adversário tão importante ainda não foi suficiente para me levar as lágrimas,
eu acredito que o jogo final tenha sido mais fácil do que de fato eu estava
preparado.
Eu nem imaginava que meses mais tarde eu teria uma emoção
muito maior a experimentar.
E em dezembro de 2012 eu estava sozinho em casa, na certeza
que se perdêssemos aquele título já seria uma honra ter chegado lá e aquela
torcida linda tomando o Japão e o estádio já tinha me deixado bem abalado
emocionalmente.
Mas não perdemos, foi um jogo lindo.
Lembro de ter ficado de pé durante os últimos 25 minutos
andando de um lado para o outro e com uma dor no peito muito grande. Nós
merecíamos isso, especialmente aqueles que lá estavam.
Perder aquele título talvez me fizesse duvidar da existência
de Deus.
No apito final, lembro de estar catatônico, sem acreditar
naquele sonho.
Eramos Bi-Campeões mas o gosto deste não tem dúvida era
muito maior.
Eu fiquei estático, sozinho e em silêncio até a entrega da
taça.
Segundos após Alessandro ter levantado a taça em senti uma
gota quente caindo nos meus braços e em segundos eu voltei aos 4 anos de idade
e comecei a chorar como aquela criança.
Na falta do meu pai para abraçar a primeira pessoa que me
veio à cabeça foi meu primo Jorge e no telefone eu mal conseguia agradecer a
ele por ter me ajudado a encontrar a paixão da minha vida.
Eu não tenho 103 anos de idade. Minha relação com o
Corinthians faz exatamente 20 anos.
Sorte a minha que estes últimos 20 anos foram os mais
vitoriosos.
Mas nesse aniversário de um século e três anos de existência
em homenageio aquele que foi quem iniciou o legado da minha família.
Coincidentemente conhecido pelo mesmo Apelido do meu Pai.
Obrigado Luizinho “
Pequeno Polegar” , talvez sem você, este texto de hoje não existiria.
O TURCA.